Relacionamentos tóxicos: como identificar e quais os riscos? Maria Alice Fontes

Quando você está em um relacionamento com uma pessoa tóxica, acredite ou não, por vezes é difícil de identificar que isso está acontecendo. Psicopatas são mestres na manipulação, capazes de serem extremamente sedutores quando desejam algo, e eventualmente você pode se sentir até a vítima. Já os narcisistas são pessoas que estão sempre pensando em si mesmos, fazendo com que você se sinta desrespeitado. Por outro lado, eles podem ser tão dominadores, que você acaba se sentindo inferior e desqualificado. 

Um relacionamento tóxico pode ser definido como aquele que afeta nossa saúde mental, nossa saúde física, reduz drasticamente nossa produtividade e transforma o senso de alegria em um verdadeiro pesadelo. 

Talvez tenha sentido o ambiente corporativo ou familiar recheado de pressões psicológicas, ameaças e assédios, ou um casamento pautado pelo desrespeito, deboches e agressões físicas e verbais. Esses são sinais da presença de um relacionamento tóxico. 

Toda relação pode envolver dificuldades e conflitos, afinal, isso é normal. Um relacionamento tóxico, por outro lado, é muito mais desgastante do que positivo, podendo gerar a constante sensação de estar pisando em ovos ao lidar com a outra pessoa. Ele pode acontecer com qualquer pessoa e em diferentes relações, desde os relacionamentos românticos até relações com amigos, familiares e colegas de empresa.

O mais interessante, contudo, é que a maioria das pessoas que vive esse tipo de relação não consegue perceber o quanto ela é prejudicial para ambos os envolvidos, especialmente do ponto de vista psicológico.

Quais são os principais sinais de um relacionamento tóxico? 

Dependendo da natureza do relacionamento, os sinais de toxicidade podem ser sutis ou altamente óbvios. Mesmo assim, é possível notar alguns padrões tanto em si mesmo, quanto em seu(sua) parceiro(a). São eles:

  1. Comportamento controlador: Uma das partes tenta controlar a outra, ditando o que ela deve fazer, com quem pode falar e o que pode vestir. Isso pode se manifestar como ciúmes excessivos e regras rígidas.
  1. Manipulação: Manipulação emocional, chantagem emocional e jogos mentais são comuns em relacionamentos tóxicos. Uma pessoa pode tentar manipular a outra para conseguir o que deseja, muitas vezes às custas da outra pessoa.
  1. Críticas constantes: Um parceiro critica o outro de forma constante, minando sua autoestima e autoconfiança. Isso pode incluir críticas sobre a aparência, habilidades, escolhas de vida, etc.
  1. Falta de comunicação: Em relacionamentos tóxicos, a comunicação geralmente é problemática. Isso pode ser manifestado através de silêncio prolongado, recusa em discutir problemas ou explosões de raiva.
  1. Desrespeito pelos limites pessoais: Uma pessoa não respeita os limites pessoais da outra. Isso pode incluir invadir a privacidade, forçar relações íntimas ou ignorar os desejos e necessidades do parceiro.
  1. Instabilidade emocional: Relacionamentos tóxicos frequentemente envolvem altos e baixos extremos. Os parceiros podem passar de um amor intenso para hostilidade em questão de minutos.
  1. Violência física ou verbal: Em casos extremos, relacionamentos tóxicos podem envolver abuso físico ou verbal. Isso é inaceitável e perigoso.
  1. Isolamento social: Um parceiro pode tentar isolar a outra pessoa de amigos e familiares, tornando-a dependente apenas dele.
  1. Desculpas constantes: Mesmo quando o parceiro prejudica deliberadamente o outro, ele pode tentar minimizar suas ações, culpar a vítima ou fazer promessas vazias de mudança.
  1. Negação: Em muitos casos, ambas as partes do relacionamento podem estar em negação sobre o quão tóxico ele realmente é, o que dificulta a busca de ajuda ou a saída do relacionamento.

O caso dos Narcisistas e sociopatas

Algumas pessoas, particularmente narcisistas e sociopatas, tendem a se alimentar da atenção e admiração de outras pessoas. Os narcisistas sentem a necessidade de superar as pessoas e fazê-las se sentirem “inferiores” em busca de superioridade.

Eles podem intencionalmente rebaixá-lo de maneiras sutis ou jogar pequenos insultos contra se você compartilhar uma conquista da qual se orgulha. Eles também podem mantê-lo adivinhando se serão ou não legais com você de um dia para o outro. Ou, eles podem se envolver em gaslighting de forma consistente.

Os narcisistas notoriamente não admitem falhas porque realmente acreditam que nunca cometem erros. Na verdade, eles acham pessoalmente ameaçador ver a si mesmos como menos do que perfeitos.

E quais são as consequências desse tipo de relação para a saúde mental? 

As relações tóxicas podem ter sérias consequências para a saúde mental das pessoas envolvidas. Estas consequências podem variar em gravidade, dependendo da intensidade e duração do relacionamento tóxico, mas podem incluir o seguinte: 

  1. Estresse e ansiedade: A constante tensão, brigas e a incerteza em relacionamentos tóxicos podem levar a níveis elevados de estresse e ansiedade. Isso pode resultar em sintomas físicos, como dores de cabeça, problemas digestivos e insônia.
  1. Baixa autoestima: A crítica constante e a falta de apoio emocional em relacionamentos tóxicos podem minar a autoestima de uma pessoa, levando-a a acreditar que é inadequada ou sem valor.
  1. Depressão: Relações tóxicas muitas vezes estão ligadas a sentimentos de tristeza e desespero. A falta de apoio emocional pode contribuir para o desenvolvimento da depressão.
  1. Isolamento social: Relacionamentos tóxicos muitas vezes envolvem o isolamento da pessoa de amigos e familiares. Isso pode levar à solidão e à sensação de estar preso.
  1. Trauma emocional:  Abuso verbal, emocional ou físico em relacionamentos tóxicos pode causar trauma emocional duradouro. Isso pode se manifestar como flashbacks, pesadelos e dificuldade em confiar em outras pessoas.
  1. Dependência emocional: Algumas pessoas podem desenvolver uma dependência emocional de um parceiro tóxico, tornando-se incapazes de tomar decisões ou cuidar de si mesmas sem a presença ou aprovação desse parceiro.
  1. Problemas de saúde mental a longo prazo: Relacionamentos tóxicos podem deixar cicatrizes profundas na saúde mental que podem durar muito tempo após o fim do relacionamento.
  1. Risco de automutilação ou pensamentos suicidas: Em casos extremos, a pessoa pode se sentir tão desesperada e impotente em um relacionamento tóxico que pensamentos suicidas ou comportamentos autodestrutivos podem surgir.

É fundamental lembrar que estar em um relacionamento tóxico não é uma sentença definitiva, e há ajuda disponível para aqueles que desejam sair desse tipo de relacionamento e buscar apoio emocional e psicológico. Terapia individual, terapia de casal (quando apropriado) e o apoio de amigos e familiares podem ser recursos valiosos para lidar com as consequências de uma relação tóxica e iniciar o processo de cura e recuperação da saúde mental.

Pessoas que vivem relacionamentos tóxicos tendem a sofrer bastante. Afinal, a maioria das situações são estressantes e até mesmo violentas (física e psicologicamente). Tudo isso, com o passar do tempo, traz consequências como baixa autoestima, isolamento social, depressão, ansiedade, insônia, entre outras.

Dando a volta por cima 

Ao lidar com qualquer tipo de relacionamento tóxico, o mais importante a se fazer é se concentrar na sua saúde e no seu bem-estar. Sendo assim, se você está lidando com alguém que drena sua energia e felicidade, considere removê-lo(a) de sua vida ou, pelo menos, limitar o tempo que passa com ele(a). E mais importante: caso você esteja sofrendo abuso emocional ou físico, procure por ajuda imediatamente.

Um atendimento especializado é essencial para avaliar e identificar a melhor saída para seu caso, de forma muito bem refletida e planejada, evitando qualquer risco à sua integridade física. A saída deve ser escolhida de forma a trazer o menor prejuízo, seja psicológico, físico ou moral para todos os envolvidos. 

Colaboração: Mônica Merlini

Referências:

https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0165032715001457?via%3Dihub

https://academic.oup.com/psychsocgerontology/article/71/5/775/2614058?login=true