Sons podem viciar como drogas? O polêmico I-Doser. Maria Alice Fontes

A técnica de frequências sonoras que é utilizada por plataformas, entre as mais conhecidas o I-Doser, têm repercutido nas redes sociais e preocupado mães e pais, que temem por possíveis riscos à saúde dos filhos. 

Apelidadas de “drogas digitais” ou “drogas sonoras”, os sites têm se proliferado no Brasil, e prometem supostamente provocar efeitos semelhantes aos de substâncias entorpecentes como maconha e LSD.

Segundo um levantamento global com 22 países, publicado na revista científica Drug and Alcohol Review, cerca de 5% da população mundial já buscou aplicativos do tipo. Entre as cinco nações com maiores adeptos, está o Brasil, cuja média sobe para aproximadamente 11,5%, atrás apenas de México e Estados Unidos.

Porém, as “drogas digitais” é algo muito mais próximo à ficção do que da realidade, e não há hoje a possibilidade de frequências sonoras produzirem efeitos de substâncias ilícitas. Isso porque elas podem interferir nas emoções, mas não conseguem liberar uma quantidade expressiva de dopamina, o neurotransmissor responsável pelo prazer e pelos comportamentos aditivos, de maneira significativa.

Ou seja, os sons binaurais emitidos pelo I-Doser geram uma sensação paradoxal, muitas vezes despertando empatia e aversão, e podem ser interpretadas como surreais. Se o paciente for sugestionado, pode achar que eles simulam o efeito do uso de drogas ilícitas. Mas as substâncias químicas em si, usadas como drogas psicoativas, provocam um efeito químico cerebral muito mais impactante no funcionamento do nosso cérebro.

Por que algumas pessoas, então, relatam sentir algo com o I-Doser? Efeito placebo e vieses cognitivos, essencialmente. Algumas experiências auditivas específicas podem gerar respostas e sensações mais objetivas no nosso cérebro, como uma música que nos emociona, que nos dá sensação de maior energia para praticar atividades físicas ou até mesmo um efeito “relaxante” pré-operatório. 

Embora não proporcione de fato os efeitos de uma droga, o I-Doser e seus semelhantes não são isentos de alguns riscos, como a dependência psicológica, assim como acontece com os jogos virtuais, ansiedade, distúrbio do sono, entre outros. É importante que os pais e educadores estejam atentos e orientem os jovens sobre a prática. 

Do lado ilícito, não há motivo para preocupação, as doses sonoras não viciam. Mais um exemplo de fake news e também uma forma de comercialização para esvaziar a carteira com compras em aplicativos e plataformas de músicas.