A nova epidemia do medo nas escolas após ataques. Como lidar e manter o equilíbrio nesse momento. Maria Alice Fontes

O número crescente de ameaças nas escolas em todo o país tem provocado medo e  ansiedade na população, em especial para as crianças, jovens e suas respectivas famílias. Esse triste cenário pode ter consequências graves no desenvolvimento dos estudantes. 

A escola, que deveria ser um espaço de bem estar para promover o aprendizado de habilidades físicas, cognitivas, sociais e afetivas, transformou-se em um cenário de caos e pânico na sociedade. 

De acordo com pesquisadores sobre o tema, as expressões empregadas nas ameaças e as motivações das publicações diferem das utilizadas pelos jovens que efetivamente cometem atentados. 

Tudo indica que se trata de ações intencionais para gerar uma nova epidemia, agora a do medo. Nas mensagens têm sido encontradas muitas fake news. Essa disseminação massiva de falsas ameaças, muitas vezes, podem ser formas orquestradas de causar pânico e a desordem da sociedade, ou talvez apenas o desejo de um jovem de se tornar famoso, e conseguir alguma visibilidade na mídia, provocando a interrupção das aulas. 

Nós profissionais da saúde mental nos deparamos com mais este desafio. Temos percebido diariamente os pais em estado de alerta máximo, e as crianças e jovens, pensando nas atitudes que deveriam tomar caso a sua escola seja invadida. É terrível, mas precisamos agir rapidamente para ajudar a manter a saúde mental das crianças e de suas famílias. 

Os primeiros responsáveis pela saúde mental das crianças e adolescentes devem ser os pais. É imprescindível identificar e acolher as crianças que estejam se sentindo inseguras neste momento. Fingir que nada está acontecendo, não falar, não enfrentar pode ter proporções cada vez maiores. Apesar dos pais também estarem inseguros, é papel da família passar confiança em relação ao que está sendo feito. 

Na escola é fundamental reunir a direção, os professores e funcionários de modo que, juntos, planejem ações de acolhimento e condutas comuns para identificar possíveis riscos e evitar a disseminação de informações incorretas ou mesmo falsas. Neste momento, mais do que nunca precisamos do diálogo e da conexão entre a direção, pais, professores, crianças e adolescentes. 

Todos os responsáveis e as escolas devem deixar claro para as crianças e jovens que a autodefesa não é o caminho. Muitos estão levando objetos para a escola, num suposto movimento de defesa. Ou seja, não podemos aceitar que a violência seja usada contra a violência. 

A segurança pode ser restabelecida, entretanto, mais do que o armamento  ostensivo nas escolas (vários outros casos já mostraram não ser efetivo) precisamos recuperar a função da escola como ambiente de respeito mútuo e  socializador. Isso implica estabelecer medidas de discussão de práticas contra a violência, que fazem parte do cotidiano, começando por identificar casos de sofrimento psicológico e bullying. 

Dentro de casa, o mais importante é manter uma postura acolhedora e um espaço de escuta ativa. Seja o mais realista possível e busque entender como a criança ou jovem se sente e o deixe à vontade para falar sobre o assunto. É normal alguns terem a necessidade de falar, enquanto outros não. 

Você que é pai, mãe ou responsável, tente administrar o seu próprio medo, para que ele não seja transferido de maneira exagerada. Em momentos delicados, é preciso manter a calma e a confiança, compartilhando apenas informações verificadas e confiáveis.

Esteja atento(a) a todas as manifestações comportamentais e emocionais dos seus filhos (e seus também) e procure ajuda profissional, se necessário, para que possamos acompanhar o bem-estar e a saúde mental nesse momento delicado.