Dedicado à conscientização e combate ao suicídio, a campanha Setembro Amarelo, em 2024 com o lema “Se precisar, peça ajuda!”, chama atenção para a consequência do desfecho mais grave de um quadro de adoecimento mental, principalmente quando não há tratamento prévio.
O período chama a atenção para a importância de falar sobre sentimentos, valorizar as emoções, a escuta qualificada e a necessidade de buscar ajuda em qualquer tempo, sem constrangimentos seja qual for a faixa etária.
Números Alarmantes
De acordo com a pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados, pois com isso, estima-se mais de 1 milhão de casos.
No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia. Ainda segundo a OMS, no Relatório de Saúde Mental de 2022, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil.
A pesquisa foi publicada na revista científica “The Lancet Regional Health – Americas” e trouxe ainda os seguintes destaques:
✅ Aumento dos suicídios e das autolesões entre os jovens foi maior que na população em geral: considerando todas as faixas, crescimento foi de 3,7% e 21% ao ano, respectivamente;
✅ Brasil vai na contramão do mundo, que teve queda de 36% na taxa em escala global;
✅ Tendência de crescimento é verificada nas Américas: entre 2000 e 2019, a região teve alta de 17%.
O estudo teve a colaboração de pesquisadores de Harvard e analisou um conjunto de quase 1 milhão de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
A Importância do Diagnóstico e Tratamento Precoce
Grande parte dos casos de suicídio está relacionada a transtornos mentais que não receberam o devido acompanhamento. O tratamento adequado, quando iniciado cedo, pode fazer toda a diferença.
Identificar sinais como mudanças bruscas de comportamento, isolamento, alterações no sono e alimentação, ou mesmo a verbalização de pensamentos suicidas, é fundamental para a prevenção. O suporte emocional de familiares e amigos, aliado ao tratamento profissional com psicólogos e psiquiatras, pode ser a chave para salvar vidas.
Por que a preocupação com a saúde mental deve ser maior na adolescência?
A adolescência é uma fase crucial de desenvolvimento físico, emocional e social. Durante esse período, os jovens enfrentaram uma série de mudanças significativas que podem afetar diretamente seu bem-estar psicológico.
O cérebro ainda não amadureceu plenamente, existindo um descompasso entre duas áreas importantes para a saúde mental. Enquanto o córtex pré-frontal, responsável pelo autocontrole e planejamento, se desenvolve mais lentamente, o sistema límbico, que controla respostas emocionais e instintivas, está em plena atividade. Essa janela de vulnerabilidade torna os adolescentes mais predispostos a comportamentos impulsivos e de risco.
Como conversar sobre suicídio com os filhos?
Conversar sobre suicídio com os filhos é um tema delicado, mas essencial para promover o bem-estar e a segurança emocional deles. É importante abordar o assunto de maneira aberta, sensível e acolhedora, sem julgamentos ou tabus. Criar um ambiente seguro para essa conversa pode ajudar os filhos a expressarem seus sentimentos, dúvidas e medos. Veja algumas orientações para abordar esse tema:
- Escolha um momento adequado
Escolha um momento em que vocês estejam tranquilos e sem distrações. Evite iniciar a conversa em momentos de tensão ou quando o filho já está emocionalmente abalado. A ideia é criar um ambiente de confiança, onde o diálogo possa fluir de forma natural.
- Seja honesto e direto
Use uma linguagem adequada para a idade do seu filho, mas seja direto ao abordar o tema. Evitar o assunto ou usar eufemismos pode criar mais confusão. Explique o que é o suicídio de forma clara, mencionando que ele acontece quando uma pessoa sente tanto sofrimento emocional que acha que não há outra saída.
Para crianças mais novas, pode-se usar frases simples como: “Às vezes, as pessoas ficam tão tristes e doentes por dentro que acham que a única forma de parar a dor é fazendo algo muito ruim para si mesmas”. Já para adolescentes, pode-se ser mais direto, mencionando a gravidade do suicídio e a importância de procurar ajuda.
- Escute sem interromper
Depois de abrir o diálogo, dê espaço para que seu filho expresse suas emoções e pensamentos sobre o assunto. Ele pode ter dúvidas, medo ou já ter ouvido algo sobre suicídio entre amigos ou na escola. Não interrompa nem minimize os sentimentos dele. O ato de ouvir, sem julgamentos, mostra que você está disponível e que ele pode confiar em você para falar sobre seus sentimentos.
- Mostre empatia e acolhimento
É fundamental que a criança ou o adolescente sinta que não será julgado por ter sentimentos difíceis. Demonstre empatia, acolhendo o que ele diz com frases como: “Eu entendo que às vezes as coisas parecem muito difíceis” ou “É normal se sentir confuso ou triste, mas existem pessoas que podem te ajudar”. Assim, você reforça que falar sobre o tema é seguro e que buscar apoio é uma atitude positiva.
Conclusão
A saúde mental na infância e adolescência não deve ser negligenciada. Intervenções certas podem prevenir problemas futuros e salvar vidas. Oferecer apoio emocional e acesso ao tratamento durante essa fase é essencial para que os adolescentes possam se desenvolver de maneira saudável e equilibrada.
Ao criar um espaço de diálogo aberto e honesto, você contribui para a conscientização sobre a importância da saúde mental e mostra que o bem-estar emocional é uma prioridade.
Se perceber sinais de alerta, não hesite em buscar ajuda especializada para seu filho. A vida humana é preciosa e insubstituível. A prevenção é sempre o melhor caminho, e o cuidado com a saúde mental precisa começar cedo.
Colaboração: Mônica Merlini
Fontes:
McGirr, A., Renaud, J., Seguin, M., Alda, M., Benkelfat, C., Lesage, A., et al. (2007). An examination of DSM-IV depressive symptoms and risk for suicide completion in major depressive disorder: A psychological autopsy study. Journal of Affective Disorders, 97(1-3), 203-209.
Meleiro A, Teng CT, Wang YP. Suicídio: estudos fundamentais. São Paulo: Segmento Farma; 2004.
https://www.thelancet.com/journals/lanam/article/PIIS2667-193X(24)00158-3/fulltext