Alienação Parental e os impactos psicológicos na vida da criança e do adolescente. Maria Alice Fontes

 

“Meus pais se separaram quando tinha 5 anos de idade. Sem muito discernimento do que isso representava, meu primeiro choque foi quando percebi que o meu pai não morava mais na mesma casa.

Os encontros diários já não existiam, nem as brincadeiras e as histórias para dormir. Não demorou muito para eu ser o elo frágil de um casamento que não tinha dado certo. Uma ligação da qual não escolhi, mas que sofri as duras consequências, em meio às constantes brigas e disputas. 

Quantas vezes me arrumei com a minha melhor roupa esperando meu pai me buscar. Porém, na maioria das vezes, os encontros não aconteciam. Eram desmarcados sem motivo aparente, vários presentes até tentaram ser entregues mas até hoje nunca chegaram. 

Perdi as contas dos milhares discursos de ódio e intimidação que minha mãe fazia em relação ao meu pai. Ela impedia a aproximação – até de cidade mudamos. Cresci em meio a isso tudo. 

Hoje, adulta, entendo que tudo que vivi foi a famosa Síndrome da Alienação Parental da minha mãe em relação ao meu pai. A raiva e o medo que sentia dele,  por acreditar no que era falado – transformou-se depois de adulta, em uma nova relação de pai e filha, ainda que com reflexos de ansiedade em vários âmbitos e sem recuperar ainda os anos perdidos dentro de uma “bolha”, mas uma nova história está sendo construída”!

Esse é um relato voluntário que recebemos com autorização de divulgação para servir de alerta. Quando falamos sobre atos de alienação parental estamos falando dos comportamentos do adulto, ou seja, um dos genitores ou responsáveis pela criança tem o objetivo, consciente ou inconsciente de privar o outro genitor do convívio da criança e do bom desenvolvimento.

Nestes casos, observamos que a criança vai aos poucos acreditando que o outro genitor é perigoso e dotado apenas de características negativas. Mas não existe ninguém que seja somente negativo. Há sempre uma ambivalência presente em todos relacionamentos e a alienação parental é um processo lento que pode chegar até a um estágio grave, onde a criança passa a acreditar que um genitor é somente mal, sem nenhuma característica positiva. 

No dia 25 de abril, marcou-se o Dia de Combate à Alienação Parental. Precisamos sempre falar sobre o assunto! 

As crianças e adolescentes são psicologicamente mais vulneráveis às influências dos adultos durante o seu desenvolvimento. 

Portanto, além de provedores, protetores e educadores, os pais também são modelos que a criança internaliza, e ela levará esses modelos de comportamento para sua vivência durante a vida adulta, muitas vezes repetindo esse padrão. 

Ou seja, a situação vivida de alienação parental não afeta somente a infância, mas vai se refletir no relacionamento da vítima, criando dificuldades de construir relacionamentos duradouros com qualquer pessoa, além de potencial para vários transtornos psiquiátricos. 

Os danos psicológicos causados pela alienação parental são reais. E impactam diretamente na saúde física, psicológica, mental e afetiva das vítimas. O diagnóstico deve envolver uma detalhada avaliação psicológica de ambas as partes, bem como da criança. Por isso é muito importante buscar profissionais capacitados, tanto para o diagnóstico, como para reduzir os danos e os traumas resultantes de tal problema.

Bibliografia:

PSICOLOGIA E PRÁTICAS FORENSES. SERAFIM, ANTONIO DE PÁDUA / SAFFI, FABIANA. Artmed, 2011