Quando se fala em tratamento psicológico para adolescentes, algumas pessoas estranham, acham precoce e desnecessário, enquanto outras acreditam que todo adolescente é problemático e deveria fazer terapia.
É consenso entre os profissionais de saúde mental especializados em adolescentes que a psicoterapia traz, sim, muitos benefícios a eles, quando precedida de uma boa avaliação para indicar os desafios, fazer diagnóstico e planejar os aspectos a serem desenvolvidos.
Nesses casos, o processo terapêutico pode ajudar os adolescentes, considerando algumas razões:
1) Adolescentes também são acometidos por problemas de saúde mental: Segundo a OMS, as condições de saúde mental são responsáveis por 16% das doenças e lesões em pessoas entre 10 e 19 anos, sendo a depressão e o suicídio as principais causas de morte. É muito importante detectar sintomas precoces, tratar e acompanhar os adolescentes e lembrar que aproximadamente metade das condições de saúde mental começam aos 14 anos de idade, mas a maioria não é detectada nem tratada;
2) O cérebro dos adolescentes tem grande plasticidade: Não é raro, ao realizarmos a anamnese de um adulto, observarmos que os sintomas que o trouxeram à consulta já haviam se manifestado em momentos anteriores, principalmente durante a adolescência. É inevitável lamentar por não terem sido tratados naquela época, já que a neuroplasticidade do cérebro de crianças e adolescentes é surpreendente e eles respondem muito melhor, tanto ao tratamento psicoterapêutico quanto ao medicamentoso;
3) O adolescente vivencia o luto pela identidade infantil, pelo corpo infantil e também pela sua história enquanto criança: No início, é comum negar a perda das suas condições infantis e ter dificuldades em aceitar as modificações morfológicas e fisiológicas do corpo. Alguns vivem essas mudanças como perturbadoras. Além disso, a segurança de que os pais tudo sabem e de tudo podem nos proteger se esvai, as responsabilidades se impõem;
4) Os adolescentes sentem-se incompreendidos pelos adultos…e muitas vezes o são: imagine que de repente, alguém de sua convivência comece a alternar momentos de introversão e outros de audácia, manifeste extrema urgência e depois desinteresse ou apatia, tenha crises religiosas que vão do ateísmo anárquico ao misticismo fervoroso…tudo isso concomitante a conflitos afetivos intensos, crises de choro e acessos de raiva! Esses comportamentos, que consideraríamos muito estranhos e até patológicos podem ser considerados naturais em se tratando de um adolescente. É o que Arminda Aberastury chama de Síndrome da Adolescência Normal. Essa anormalidade, que é normal nos adolescentes, precisa ser acolhida e compreendida. Também é possível observar que em nossa sociedade o espaço para o adolescente existir não é tão valorizado. Não há baladas de que os adolescentes gostem de participar: ou acham infantis ou são proibidas para menores; o mesmo acontece com a TV aberta. Com felizes exceções, como a novela Malhação ou o programa do Serginho Groissman, as emissoras não pensam em conteúdos voltados para quem não se identifica mais com programas infantis ou com a politizada dramaturgia das novelas;
5) Os adolescentes se colocam em situações de risco com frequência: O acompanhamento de um profissional de saúde mental pode funcionar como freio para os adolescentes que têm tendência a abuso de substâncias, por exemplo. É relativamente comum que adolescentes se coloquem em constantes riscos, como conduzir veículos sem habilitação, envolver-se em brigas ou experimentar substâncias como álcool e outras drogas. Esse flerte com o perigo pode ser explicado pelo fato de a região do cérebro responsável pela tomada de decisões, pelo balanço entre ações e suas respectivas consequências, não estar em pleno funcionamento nesta idade. É como se faltassem freios a um carro descendo uma ladeira em alta velocidade. Além dos riscos a curto prazo, como acidentes, overdoses, coma alcoólico, hoje se sabe que a experimentação precoce pode levar à dependência química, ou seja, quanto mais tarde um indivíduo experimentar álcool e outras drogas, menos risco ele correrá de ter problemas com substâncias na vida adulta. Logo, adiar esta experimentação é um fator de proteção para os adolescentes e o acompanhamento pode fazer a diferença no momento em que eles flertarem com esse perigo;
6) O adolescente tem a grande responsabilidade de escolher uma profissão: É esperado que no início do terceiro ano do Ensino Médio os adolescentes brasileiros estejam preparados para uma escolha que terá impacto sobre o resto de suas vidas, a profissão. Eles não são considerados aptos a conduzir um veículo e têm que tomar uma decisão de tamanha responsabilidade! Para a grande maioria esta não é uma decisão simples e a pressão sobre eles gera uma angústia enorme. O psicólogo está preparado para orientar na escolha e no planejamento de uma carreira, avaliando habilidades, gostos, bem como a personalidade do jovem. Ter uma perspectiva de futuro é um balizador e também motiva o adolescente, que agora tem um objetivo mais concreto, a aplicar-se na vida acadêmica;
7) É importante que o adolescente compreenda como funciona seu cérebro: Não são apenas os adultos que não compreendem o adolescente; ele também não se entende em muitos momentos. Nesta fase, a turma passa a ter grande importância. Tudo que desejam é se sentirem pertencentes ao grupo e importantes dentro dele. Então, qualquer rompimento, rejeição, julgamento pelos pares podem trazer muito sofrimento psíquico. Isso sem entrarmos na questão do bullying que muitos sofrem. Ou praticam. Eles trazem queixas do tipo “nem eu me aguento”, “não entendo porque continuo fazendo isso”, “sou diferente e não sou aceito”, “eu não queria fazer isso com o Marquinhos, mas quando vejo já fiz e todos estão rindo”.
Até 20 anos atrás, tudo que se passava com os adolescentes era atribuído aos hormônios. Hoje, graças aos avanços das neurociências, é possível compreender que o cérebro de um adolescente, apesar de ser do mesmo tamanho do de um adulto, ainda não amadureceu. Há regiões mais ativadas e outras, como o lobo pré-frontal, que só funcionam perfeitamente no fim da adolescência.
Um profissional pode explicar como essas mudanças se dão, bem como ajudá-los a identificar pensamentos disfuncionais, compreender como é possível ter mais domínio sobre nossos comportamentos e, assim, sofrer menos com as consequências deles.
A adolescência é um ótimo momento para aprender. E dá para aprender a viver com menos sofrimento, a se sentir melhor e a ser mais feliz!