Você tem o hábito de ler para o seu filho pequeno?
Com tantos atrativos no dia a dia, especialmente com o avanço da tecnologia, tem sido recorrente a falta de curiosidade das crianças em pegar um livro para ler. Entretanto, isso não significa que esse hábito não possa e deva ser incentivado.
A leitura abre portas para um mundo mágico, um mundo de possibilidades e fantasias. O hábito da leitura auxilia a criança a desenvolver sentimentos, imaginação e emoções de maneira significativa. Proporciona melhora no desenvolvimento emocional, social e cognitivo, sendo fundamental para a interação e a aquisição de conhecimentos, informação sobre o meio que vive.
Apesar da grande importância que a literatura exerce na vida do indivíduo, seja no desenvolvimento emocional ou na capacidade de expressar suas ideias, muitas pessoas não gostam de ler. Mas afinal, por que isso acontece?
Segundo pesquisas, alguns fatores são importantes para que possamos despertar o gosto pela leitura desde a infância: a curiosidade e o exemplo. Neste sentido, o livro deveria ter a importância de uma televisão ou de um computador dentro de casa. Os pais deveriam ler mais para os filhos e para si próprios. A criança que houve histórias desde cedo, que tem contato direto com livros e que é estimulada, tem um desenvolvimento favorável no seu vocabulário, bem como na prontidão para a leitura. No entanto, de acordo com a UNESCO (2005), infelizmente somente 14% da população tem o hábito de ler.
Quando posso começar a ler para o meu filho?
Muitos de nós não sabemos, mas a importância da leitura começa antes mesmo de conhecermos o rostinho do nosso bebê.
De acordo com especialistas, o bebê começa a perceber e identificar o som da voz materna a partir da 20ª semana de gestação. O hábito de ler e cantar para os bebês ainda na barriga, propicia um elo entre os pais e o bebê, que já reconhece a voz deles, especialmente a da mãe, oferecendo tranquilidade e o início da conexão social.
Como posso inserir o hábito de leitura na rotina do meu filho?
Quando a criança já foi estimulada desde o período de gestação, esse hábito da leitura deve continuar. Quando o bebê começar a interagir com objetos, tente inserir o livro nas brincadeiras desde muito pequeno. Crie tempo e espaço para as leituras! Essa prática aguça a curiosidade, permite que a criança seja mais segura e conviva bem com as diferenças.
Como a leitura pode estimular o desenvolvimento?
Através dos livros as crianças descobrem formas, cores, movimentos, ilustrações e percebem que existe vida dentro dos livros. Através da leitura temos o desenvolvimento da curiosidade e da fantasia, pois a criança cria suas próprias imagens mentais e não somente assiste a um conteúdo pronto como nos vídeos. Deixe que a criança pegue, abra, perceba o que aquele objeto tem a oferecer. O mundo da imaginação precisa ser desenvolvido e está associado à leitura, à fantasia, à criação e interpretação que cada um dá para o que escuta ou lê. Nas primeiras fases do brincar é fundamental experimentar e imaginar através dos livros. Desta forma o vocabulário do seu filho vai se desenvolvendo e quando o processo de alfabetização iniciar, ele já foi apresentado às letras, às formas, aos pequenos textos, sendo leitores sem ainda saber ler.
Qual a importância de ouvir histórias?
Quando a mãe lê e conversa com seu filho, a narrativa já começa a fazer parte da vida da criança desde bebê. É através da voz, dos acalantos e das canções de ninar, que os cuidadores mais tarde vão dando lugar às cantigas de roda, as narrativas curtas, e as informações sobre os animais ou sobre a natureza. Neste caso, as crianças bem pequenas já demonstram seu interesse pelas histórias, batendo palmas, sorrindo, sentindo medo ou imitando algum personagem. Neste sentido, é fundamental para a formação da criança que ela ouça muitas histórias desde a mais tenra idade.
O primeiro contato da criança com um texto é realizado oralmente, quando o pai, a mãe, os avós ou outra pessoa conta-lhe os mais diversos tipos de histórias. À medida que cresce, ela é capaz de escolher a história que quer ouvir, ou a parte da história que mais lhe agrada. É nesta fase, que as histórias vão tornando-se aos poucos mais extensas, mais detalhadas.
Algum tempo depois, as crianças passam a se interessar por histórias inventadas e pelas histórias dos livros, como: contos de fadas ou contos maravilhosos, poemas, ficção. Segundo Sandroni & Machado (1998), “os livros aumentam muito o prazer de imaginar coisas. A partir de histórias simples, a criança começa a reconhecer e interpretar sua experiência da vida real”.
Meu filho já sabe ler. Posso continuar contando histórias para ele?
Segundo Abramovich (1997) “quando a criança sabe ler é diferente sua relação com as histórias, porém, continua sentindo enorme prazer em ouvi-las”. Quando as crianças maiores ouvem as histórias, aprimoram a sua capacidade de imaginação, já que ao ouvi-las podem estimular o pensar, desenhar, escrever, criar e recriar.
Portanto, garantir a riqueza da narrativa desde os primeiros anos de vida da criança contribui para o desenvolvimento do seu pensamento lógico e também de sua imaginação, que segundo Vygotsky (1992) caminham juntos: “a imaginação é um momento totalmente necessário, inseparável do pensamento realista.”. Neste sentido, o autor enfoca que na imaginação a direção da consciência tende a se afastar da realidade. Esse distanciamento da realidade através de uma história por exemplo, é essencial para o aprofundamento na própria realidade.
Como o ambiente escolar pode contribuir para esse processo?
A partir da leitura desde a primeira infância, os laços entre a escola e literatura começam a se estreitar, “a escola passa a habilitar as crianças para o consumo das obras impressas, servindo como intermediária entre a criança e a sociedade de consumo”.
A sala de aula deve oferece pequenas doses diárias de leitura agradável, que desenvolverão na criança um hábito que poderá acompanhá-la pela vida inteira. Para desenvolver um programa de leitura equilibrado, que integre os conteúdos relacionados ao currículo escolar e ofereça variedade de livros de literatura como contos, fábulas e poesias, é preciso considerar a idade da criança e principalmente o estágio de desenvolvimento de leitura em que ela se encontra.
De acordo com Bamberguerd (2000), a criança que lê com maior desenvoltura aprende com mais facilmente, se transformando num leitor capaz. Sendo assim, pode-se dizer que a habilidade de ler está intimamente ligada com a motivação. Nesta perspectiva, cabe ao professor ensinar a criança não somente a ler, mas a gostar de ler.
A literatura e os estágios psicológicos da criança
Durante o seu desenvolvimento, a criança passa por estágios psicológicos. Essas etapas não dependem de sua idade, mas de acordo com Coelho (2002) do seu nível de amadurecimento psíquico, afetivo e intelectual e do nível de conhecimento e domínio do mecanismo da leitura. Neste sentido, é necessária a adequação dos livros às diversas etapas pelas quais a criança normalmente passa.
Quais são as cinco etapas do desenvolvimento da leitura?
Existem cinco etapas de leitura que acompanham o desenvolvimento psicológico da criança: pré-leitor, leitor iniciante, leitor em processo, leitor fluente e leitor crítico.
1) Pré-leitor (dos 15/17 meses aos 3 anos)
Nesta fase, a criança começa a reconhecer o mundo ao seu redor através do contato afetivo e das percepções como tato, visão, som, cheiro. Por este motivo ela sente necessidade de pegar ou tocar tudo o que estiver ao seu alcance. Outro momento marcante nesta fase é a aquisição da linguagem, onde a criança começa a nomear tudo a sua volta. A partir da percepção da criança com o meio em que vive, é possível estimulá-la oferecendo-lhe brinquedos, álbuns, chocalhos musicais, entre outros. Assim, ela poderá manuseá-los e nomeá-los e com a ajuda de um adulto poderá relacioná-los propiciando situações simples de leitura.
Nesta fase a criança é egocêntrica, e a leitura deve estar adaptada ao meio físico e ao aumento do interesse pela comunicação verbal. Como a criança interessa-se principalmente por atividades lúdicas, o “brincar” com o livro será importante e significativo para ela.
2) Leitor iniciante (a partir dos 6/7 anos)
Nesta fase, sugere-se os livros com predomínio de imagem. A técnica da repetição ou reiteração de elementos são segundo Coelho (2002, p.34) “favoráveis para manter a atenção e o interesse desse difícil leitor a ser conquistado”.
Essa é a fase em que a criança começa a apropriar-se da decodificação dos símbolos gráficos, mas como ainda se encontra no início do processo, o papel do adulto como “agente estimulador” é fundamental.
Os livros adequados nesta fase devem ter uma linguagem simples com começo, meio e fim. As imagens devem predominar sobre o texto. As personagens podem ser humanas, bichos, robôs, objetos, especificando sempre suas características e comportamentos, como bom e mau, forte e fraco, feio e bonito. Histórias engraçadas, ou que o bem vença o mal atraem muito o leitor nesta fase. Indiferentemente de se utilizarem textos como contos de fadas ou do mundo cotidiano, de acordo com Coelho (2002) “eles devem estimular a imaginação, a inteligência, a afetividade, as emoções, o pensar, o querer, o sentir”.
3) Leitor em processo (a partir dos 8/9anos)
A criança nesta fase já domina o mecanismo da leitura. Seu pensamento está mais desenvolvido, permitindo-lhe realizar operações mentais. Interessa-se pelo conhecimento de toda a natureza e pelos desafios que lhes são propostos. O leitor desta fase tem grande atração por textos com a presença do humor e situações inesperadas ou satíricas. Os livros adequados a esta fase devem apresentar imagens e textos escritos em frases simples, de comunicação direta e objetiva. De acordo com Coelho (2002) deve conter início, meio e fim. O tema deve girar em torno de um conflito que deixará o texto mais emocionante e culminar com a solução do problema.
4) Leitor fluente (a partir dos 10/11 anos)
O leitor fluente está em fase de consolidação dos mecanismos da leitura. Sua capacidade de concentração cresce e ele é capaz de compreender o mundo expresso no livro. Segundo Coelho (2002) é a partir dessa fase que a criança desenvolve o “pensamento hipotético dedutivo” e a capacidade de abstração. Neste estágio, que coincide com a pré-adolescência, encontramos o início de mudanças significativas no indivíduo. Há um sentimento de poder interior, de ver-se como um ser inteligente, reflexivo, capaz de resolver todos os seus problemas sozinhos. Aqui há uma espécie de retomada do egocentrismo infantil, e o pré-adolescente pode apresentar um certo desequilíbrio com o meio em que vive.
O leitor fluente é atraído por histórias que apresentem valores políticos e éticos, por heróis ou heroínas que lutam por um ideal. Identificam-se com textos que apresentam jovens em busca de espaço no meio em que vivem, seja no grupo, equipe, entre outros. É adequado oferecer a esse tipo de leitor histórias com linguagem mais elaborada. As imagens já não são indispensáveis, porém ainda são um elemento forte de atração. Interessam-se por mitos e lendas, policiais, romances e aventuras. Os gêneros narrativos que mais agradam são os contos, as crônicas e as novelas.
5) Leitor crítico (a partir dos 12/13 anos)
Nesta fase o domínio da leitura e da linguagem escrita é total. Sua capacidade de reflexão aumenta, permitindo-lhe a intertextualização. O leitor desenvolve gradativamente o pensamento reflexivo e a consciência crítica em relação ao mundo. Sentimentos como saber, fazer e poder são elementos que permeiam o adolescente. O convívio do leitor crítico com o texto literário, segundo Coelho (2002) “deve extrapolar a mera fruição de prazer ou emoção e deve provocá-lo para penetrar no mecanismo da leitura”.
Desenvolver o interesse e o hábito pela leitura é um processo constante, que começa muito cedo, em casa, aperfeiçoa-se na escola e continua pela vida inteira. Existem diversos fatores que influenciam o interesse pela leitura.
Meu filho apresenta dificuldade no processo de aquisição da leitura, como devo agir?
Mesmo com hábitos familiares facilitadores e linguagem oral bem organizada, algumas crianças ainda apresentam dificuldades no processo de aquisição e desenvolvimento da leitura e escrita. A dificuldade deve ser avaliada por profissionais, como fonoaudiólogos, psicólogos ou psicopedagogos, o mais rápido possível, para que a criança não crie sentimento de incapacidade ou de que ler e escrever não é prazeroso, pois isso dificultará a intervenção.
Como incentivar a leitura na vida de seu filho?
1- Escolha, inicialmente, livros que ele gosta de ler.
2- Faça da leitura um hábito diário.
3- É importante respeitar o ritmo do seu filho.
4- Dar o exemplo também é uma maneira de incentivar a leitura.
5- Leia sempre com o seu filho e para o seu filho.
6- Faça passeios em bibliotecas.
7- Incentive seu filho a contar as suas próprias histórias, seja o ouvinte.
8- 8- Crie um mundo de faz de conta. Construa esse mundo com ele!
Segundo Abramovich (1997) quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar de forma mais clara, sentimentos que têm em relação ao mundo. As histórias trabalham questões existenciais típicos da infância, como: medos, sentimentos de inveja e de carinho, curiosidade, dor, perda, além de ensinarem infinitos assuntos.
É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica… É ficar sabendo história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc. sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula (ABRAMOVICH, 1997, p.17)
“O amor pelos livros não é coisa que apareça de repente”. É preciso construir e ajudar a criança a descobrir o que eles podem oferecer. Assim, todos têm um papel fundamental nesta descoberta: somos estimuladores e incentivadores da leitura.
Bibliografia
http://www.cbvweb.com.br/blog/incentivar-a-leitura-do-seu-filho/
Literatura Infantil Brasileira. Lajolo, Marisa & Zilbermann, Regina – Editora Realize
2002
A importância da literatura infantil na formação de leitores. Abramovich, Fanny – 1997
Os gêneros do discurso. Bakthin , Mikhail – 1992