Férias chegaram: como melhorar a conexão e estimular os filhos? Andrea Fernandez, Maria Alice Fontes

É senso comum que o amor e o apoio de uma mãe sempre serão primordiais para o desenvolvimento saudável de uma criança. Entretanto, muitos pais se queixam das férias. Sentem-se sobrecarregados com o recesso da escola e pouco aproveitam o tempo precioso com seus filhos. Recentemente, no entanto, pesquisadores identificaram que há estágios específicos do desenvolvimento do cérebro de uma criança que são hipersensíveis ao amor e apoio materno, ou a falta dele.

Quando os filhos são pequenos dependem dos adultos para comer, tomar banho, vestir-se, caminhar, enfim para suprir todas as suas necessidades básicas. Estabelecemos assim uma conexão enorme. Mas o apego com os filhos deve ocorrer independentemente da idade. É algo para toda a vida. Nada melhor do que as férias para dedicar tempo qualitativo e permitir que essa conexão aconteça naturalmente. Com menos compromissos, fica mais fácil se entregar por completo. Alguns pais têm dificuldade de se conectar com os filhos porque, além de tempo, lhes falta boa vontade para acompanhar as crianças naquilo que elas se interessam.

Quais os efeitos da conexão afetiva?

Com a conexão cria-se intimidade, cumplicidade e companheirismo. Aguçamos as emoções e desenvolvemos um olhar diferente para o outro. Neste momento de troca os pais têm a oportunidade de incentivar, apoiar, elevar a autoestima, utilizar o toque, o contato físico, criando assim laços de afetividade e também estimulando o cérebro a responder positivamente a estes estímulos.

O momento de conexão propicia a aprendizagem para ambos. Entregar-se ao momento de conexão nos proporciona a oportunidade de esvaziar a mente de julgamentos e obrigações do dia a dia, dando espaço para o olhar genuíno para a criança. Neste momento, o vínculo afetivo está em pleno desenvolvimento e ele passa a ser o passaporte para a criança se desenvolver e se tornar independente com segurança. Essa troca afetiva proporciona o desenvolvimento gradual da auto regulação da criança.

O que acontece com o cérebro das crianças com a conexão afetiva?

Segundo Luby (2016) crianças que recebem apoio afetivo dos pais apresentam aumento significativo no volume do hipocampo entre o período da idade escolar e a adolescência. O hipocampo é uma área fundamental para a aprendizagem, memória e regulação emocional.

Por outro lado, as crianças cujo apoio é menor durante os anos pré-escolares, mostraram um crescimento hipocampal menos robusto. Curiosamente, mesmo que os jovens recebam apoio já da fase final da adolescência, pesquisas apontam que depois da pré-escola, o hipocampo não responde da mesma maneira ao carinho como mais cedo na vida.

Atividades como correr, pular, abraçar, beijar, sentir, ouvir, faz o cérebro fazer novas conexões neurais. Segundo Relvas em seu artigo intitulado o cérebro aprende pelo afeto e emoção, a aprendizagem se dá com a combinação de estímulos intrínsecos (neurotransmissores e hormônios) e extrínsecos (informações externas do ambiente). Sem nos darmos conta, muita atividade cerebral está sendo realizada durante esses estímulos dados aos filhos no momento de conexão com seus pais.

Por que precisamos brincar ao ar livre?

No início dos anos 80, um biólogo da Universidade de Harvard chamado Edward O. Wilson propôs uma teoria chamada biofilia: que os seres humanos são instintivamente atraídos para o seu ambiente natural. Muitos pais do século XXI, no entanto, questionam essa teoria, pois observam seus filhos expressarem uma clara preferência por se sentarem em um sofá diante de uma tela e jogarem do lado de fora.

Essa mudança é em grande parte devido à tecnologia. Sabe-se que as crianças modernas passam em média 4 a 7 minutos por dia em brincadeiras não-estruturadas ao ar livre, mas por outro lado podem passar mais de 7 horas por dia em frente a uma tela.

Estudos recentes apontam o benefício, até mesmo a necessidade, de passar tempo ao ar livre, tanto para crianças quanto para adultos. A maioria dos estudos concorda que as crianças que brincam fora são mais inteligentes, mais felizes, mais atentas e menos ansiosas do que as crianças que passam mais tempo em ambientes fechados.

O que podemos fazer para ajudar os nossos filhos desenvolveram um cérebro saudável?

• Passar tempo a sós com o seu filho, ao ar livre e sem interferência de telefone ou outros distratores;
• Dizer o quanto o ama;
• Brincar com ele, deixando com que ele escolha a brincadeira;
• Deixe-o explicar as regras do jogo, lhe dando assim a oportunidade dele ensinar, como um professor;
• Acordar juntos, cumprir os combinados e respeitar as regras dando bons exemplos;
• Dar a oportunidade que ele perca no jogo e converse sobre a naturalidade do fato;
• Incentivar a não desistir diante de alguma dificuldade na brincadeira;
• Encorajar suas atitudes e decisões, lembrando que elogios específicos são mais eficazes. Em vez de falar: “nossa como você é inteligente!”; opte por falar: que boa jogada você fez, foi uma estratégia bem pensada”;
• Incentivá-lo a fazer algo que nunca fez, levantando assim sua autoestima;
• Deixa-lo pensar, descobrir, solucionar, evitando dar respostas prontas;
• Tocar e fazer carinho durante o momento em que estão juntos;
• Seja herói, seja cumplice;
• Guardar os seus segredos, nunca traindo sua confiança, pois sendo seu cúmplice você pode se tornar o companheiro mais fiel que seu filho possa ter.

Quais são algumas atividades que podem fazer juntos?

• Ler e cantar;
• Assistir um programa ou um filme junto, dando oportunidade para discussão e troca de opinião;
• Tirar um momento para ajudá-lo a resolver um problema, esclarecendo uma dúvida e respondendo a qualquer pergunta que surja. Para fazer disso algo divertido, coloquem perguntas dentro de uma caixinha ao longo do dia e reserve um momento para respondê-las;
• Transmitir seu conhecimento sobre atividades corriqueiras: consertos domésticos ou as tarefas que você realiza dentro de casa ou atividades do seu trabalho. Compartilhe o que você sabe;
• Fazer jogos onde possam expressar sentimentos e identificar linguagem corporais e faciais;
• Sentar-se no chão com eles e pedir que nos ensinem como brincar com seus brinquedos. Torne-se criança novamente!
• Jogar jogos de tabuleiro;
• Brincar rolando no chão, sem regras e com espontaneidade.

O que ficará armazenado?

No final das férias além de terem lembranças gostosas, verão crianças felizes e estimuladas. O indivíduo feliz reage positivamente a novas informações, pois sua autoestima está organizada e equilibrada, pronta para novos estímulos. Entende-se que o ambiente natural e afetivo motiva as interações, gera alegria, renova energias, gera mudança de ações, impulsiona o indivíduo a crescer saudável emocionalmente.

Como diz Vygotsky (2003), as reações emocionais exercem influência essencial e absoluta em todas as formas de nosso comportamento e em todos os momentos do processo educativo. Se quisermos que as crianças recordem melhor ou exercitem mais seu pensamento, devemos fazer com que essas atividades sejam emocionalmente estimuladas. A experiência e a pesquisa têm demonstrado que um fato impregnado de emoção é recordado de forma mais sólida, firme e prolongada que um feito indiferente.

A equipe da Clínica Plenamente lhes deseja ótimas férias com seus filhos!

Bibliografia

Fundamentos Biológicos da Educação – Despertando Inteligências e Afetividade no processo da Aprendizagem. Rio de Janeiro, 5ª edição. WAK Editora, 2010.

Grispun, M.P.S.Z. Os novos paradigmas em educação: os caminhos viáveis para uma análise. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 75 no. 179, Brasília, 2004.

Louv R. Last Child in the Woods: Saving Our Children From Nature-Deficit Disorder 2008

Luby JL., Belden A, Harms M at al. Preschool is a sensitive period for the influence of maternal support on the trajectory of hippocampal development 2016 https://doi.org/10.1073/pnas.1601443113

Silveira, Mara Musa Soares. O funcionamento do cérebro no processo de aprendizagem. 2004.

Vygotsky, L.S. Psicologiapedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003.