A busca incessante pelo desenvolvimento da autoestima dos filhos, faz muitos pais pensarem que podem promover autoestima nos seus filhos dizendo o quanto inteligente e espertos eles são.
Mas, ao contrário do que alguns pais pensam, a autoestima não se desenvolve apenas dizendo às crianças que elas são especiais e inteligentes, mesmo que sejam!
Quando as crianças competem, seja ganhando ou perdendo, elas percebem que o trabalho duro e a prática dos treinamentos podem fazer a diferença. Sabe-se que dar uma medalha de participação a cada criança não ajuda a desenvolver autoestima.
É importante entendermos que as crianças podem, eventualmente, se sentir bem consigo mesmas, mesmo quando falham. Ganhar um prêmio só contribui para a autoestima quando uma criança entende o esforço que teve para ganhar. Assim, o desenvolvimento da autoestima acontece com as experiências que as fazem sentir capazes, eficazes e aceitas.
Os estudos de Carol Dweck, PhD em Psicologia e professora da Universidade de Stanford, mostram que falar de forma recorrente para as crianças que elas são inteligentes e talentosas pode até causar danos, pois promovem uma mentalidade de que a inteligência é uma característica pré-determinada e não muda ao longo da vida, ou seja, que é um atributo que já temos desde o nascimento, e que elas ou já nascem inteligentes ou então nunca serão. Esse é o conceito de mentalidade fixa (fixed mindset). Numa mentalidade fixa, as crianças acreditam que suas habilidades básicas, sua inteligência, seus talentos são apenas características definitivas, não importa o quanto se esforçam para estudar para um teste de matemática, por exemplo. As crianças têm uma certa quantidade de inteligência e é isso, então o objetivo delas é parecerem inteligentes o tempo todo e nunca mostrarem que poderiam ser diferentes.
Em uma mentalidade de crescimento (growth mindset), as crianças entendem que seus talentos e habilidades podem ser desenvolvidos através do esforço, falhas, erros, estudo e persistência. Eles não necessariamente acham que todos são iguais ou qualquer um pode ser um Einstein, mas acreditam que todos podem ficar mais inteligentes se trabalharem nisso. Alias, foi comprovado que só o fato de explicar esses conceitos para as crianças, contribuímos para ampliar a ideia que a inteligência é de fato uma característica em desenvolvimento, e é exatamente no momento em que as crianças estão falhando, é que a persistência e a busca por novas soluções para enfrentar o problema podem alavancar altos níveis de inteligência.
Esse conceito é importante porque os indivíduos com uma mentalidade de crescimento têm comprovadamente maior probabilidade de continuar se esforçando apesar dos contratempos. Por exemplo, crianças elogiadas como “bom trabalho, você é muito inteligente” têm muito mais chances de desenvolver uma mentalidade fixa, ao passo que se receber elogios como: “bom trabalho, percebi que você se esforçou”, é provável que desenvolvam uma mentalidade de crescimento, pois com o tempo acreditam que o esforço, a persistência apesar do fracasso, é sempre valorizada. Elas aprendem a fazer conexões entre esforço e resultado.
As crianças que acreditam que os pais valorizam apenas características fixas nelas, por exemplo um padrão de inteligência, podem acabar tendo medo dos erros e dificuldade em tentar novamente, simplesmente porque a autoestima se vinculou com a nota final do teste.
De que forma a mentalidade de crescimento está relacionada com autoestima?
Vamos entender a diferença entre autoestima e autoconceito. A autoestima é o sentimos a respeito de nós mesmos, os sentimentos e emoções. Enquanto o autoconceito é o que pensamos a respeito de nós mesmos, as nossas crenças internas. O que sentimos muitas vezes não pode ser modificado facilmente, pois é uma resposta automática do que pensamos. Sem que possamos mudar o que pensamos a respeito de nós mesmos é impossível mudar o que sentimos. Por exemplo, como uma criança pode ser sentir feliz consigo mesma, se ela pensa que é maldosa, mentirosa ou burra?
Desta forma, para mudar o que sentimos é necessário antes trabalhar no que pensamos a respeito de nós mesmos. E aí entra o conceito de mentalidade fixa ou mentalidade de crescimento. A recomendação seria apontar e elogiar o processo em que seu filho esteja engajado. Buscando valorizar sempre o processo e o esforço em vez de focar no resultado final. E quando o resultado não é favorável, podemos ajuda-los a pensar em soluções e numerar a tarefa em pequenos passos, dando o suporte que precisam durante o processo.
Para desenvolvermos autoestima é imperativo que as crianças sejam encorajadas a desenvolverem pensamentos positivos a respeito da sua capacidade de melhorar e que sejam reconhecidas por isso. Muitas experiências da infância também contribuem para a autoestima saudável e incluem: ser ouvidas, ter um tratamento de respeito, receber atenção e afeto apropriados e ter as realizações reconhecidas, assim como os erros ou falhas reconhecidas e aceitas. As experiências que contribuem para a baixa autoestima incluem ser severamente ou constantemente criticadas, abusadas física, sexual ou emocionalmente, serem ignoradas, ridicularizadas ou provocadas ou eventualmente esperar que sejam “perfeitas” o tempo todo.
Durante a idade escolar, o desempenho acadêmico é um contribuinte significativo para o desenvolvimento da autoestima. Por exemplo, um aluno que consiga atingir o sucesso consistentemente ou que falhe de forma recorrente terá um forte efeito acadêmico sobre sua autoestima.
As experiências sociais são outro importante fator para a o desenvolvimento da autoestima. Com o relacionamento social na escola, as crianças começam a entender e reconhecer as diferenças entre elas e seus colegas. Elas avaliam se o seu desempenho em vários aspectos é pior ou melhor que os colegas. Essas comparações desempenham um papel importante na formação da autoestima da criança, pois influenciam os pensamentos positivos ou negativos que elas têm sobre si mesmas.
Quando as crianças passam para a adolescência, a influência dos colegas torna-se ainda muito mais importante. Os adolescentes fazem avaliações de si mesmos com base em seus relacionamentos com amigos íntimos. Relações bem sucedidas entre a turma de amigos são muito importantes para o desenvolvimento de um bom autoconceito social. A aceitação social, o sentimento de conexão gera confiança e produz pensamentos positivos sobre si mesmo, ao passo que a rejeição dos pares e a solidão provocam muitas dúvidas e pensamentos negativos, gerando consequente baixa autoestima.
Estudos mostram que a autoestima aumenta da adolescência para a idade adulta média, atinge um pico aos 50 anos e diminui na velhice e ela pode ser considerada a causa de muitos resultados na vida. Isso quer dizer que a autoestima tem um impacto significativo nas experiências da vida real, podendo ser considerada a causa de sucesso ou fracasso em importantes domínios da vida.
Em resumo, todos podemos ter autoestima saudável e alto nível de resiliência quando desenvolvemos crenças e habilidades saudáveis. A autoestima é fundada em crenças como: “Eu sou capaz. Eu pertenço. Eu tenho capacidade de mudar minha vida. Eu posso lidar com a dificuldades”.
A Disciplina Positiva reforça que os erros são oportunidades de aprendizagem e podemos desenvolver autoestima nas crianças e adolescentes quando pudermos promover habilidades internas para elas pensarem de forma consistente: “Eu posso resolver problemas. Eu posso me recuperar quando erro. Meus pensamentos e sentimentos são respeitados. Eu sei fazer escolhas. Eu sei como ser respeitoso comigo mesmo e com os outros”. Os pais podem sempre ajudar seus filhos a desenvolverem autoestima a medida que eles oferecem oportunidades para as crianças desenvolverem essas crenças e habilidades, dentro de uma mentalidade de crescimento.
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Bibliografia:
Carol Dweck. Mindset: A nova psicologia do sucesso. Ed. Objetiva. 2017
www.positivediscipline.com/articles/you-can%E2%80%99t-give-your-children-self-esteem
Orth U, Robins RW, Widaman KF. Life-span development of self-esteem and its effects on important life outcomes. J Pers Soc Psychol. 2012 Jun;102(6):1271-88.