Como todos os seres vivos, somos inerentemente seres sexuais. O desenvolvimento da nossa sexualidade está relacionado em como nos entendemos e definimos, como percebemos os outros e como vemos o mundo. A sexualidade é uma combinação multidimensional e complexa de fatores fisiológicos, interpessoais, culturais, emocionais e psicológicos. É importante refletir sobre todos esses aspectos e o papel que cada um desempenha na sexualidade saudável. Como o relacionamento que temos com nossa autoestima reflete na nossa sexualidade?
O que é autoestima?
Compreendemos por autoestima a maneira pela qual os indivíduos aceitam sua própria identidade, incluindo a boa imagem corporal e a compreensão dos aspectos afetivos e sociais inerentes a sua existência. A autoestima envolve o gostar e aceitar-se, podendo influenciar diretamente a sexualidade ou ser um grande obstáculo para ela. A autoestima é a chave de uma vida sexual saudável e recompensadora.
Como se forma a autoestima?
A autoestima se forma a partir do autoconceito, ou seja, dos pensamentos que temos sobre nós mesmos. Estes são desenvolvidos desde a nossa infância, a partir dos relacionamentos com as pessoas significantes. Os pensamentos que cada um tem sobre si irão aos poucos formar o autoconceito, que pode ser positivo, baseado em esperança e fé em si mesmo ou negativo, baseados em crenças de insuficiência e insucesso. Os pensamentos sobre si mesmo (autoconceito) desencadeiam sentimentos, que são as raízes da autoestima. O indivíduo com autoestima preservada se respeita e exige o mesmo dos outros, sentindo-se capaz de ser amado. Já uma pessoa com sentimentos de menos valia pode não ter prazer sexual por não se sentir no direito de reivindicá-lo.
Quais fatores influenciam a autoestima corporal?
Diversos fatores influenciam a formação de uma boa autoestima corporal, dentre as crenças, os valores e as vivências históricas relativas a cada cultura. Os modelos socioculturais de cada época direcionam como uma determinada configuração física acaba sendo vista como adequada. Assim, vai-se formando um padrão de beleza restrito com papéis sexuais e formas específicas de exposição do corpo, que refletem uma restrita construção da imagem corporal, da ideia sobre si mesmo e consequentemente da autoestima corporal.
Qual a relação entre autoestima corporal e sexualidade?
Sexualidade e autoestima são conceitos intimamente ligados, sendo que queixas e sintomas sexuais podem, muitas vezes, ser expressões de baixa autoestima. É muito comum chegarem aos consultórios pessoas com dificuldades sexuais cuja causa é a má relação que a pessoa tem consigo ou com seu próprio corpo.
Quais fatores influenciam a sexualidade saudável?
A sexualidade humana não se limita ao ato sexual; ela engloba emoções, afetos, sensações, pensamentos. Dessa forma, sentimentos e pensamentos influenciam o exercício da sexualidade. O contrário também ocorre, ou seja, a vivência da sexualidade irá influenciar sentimentos e pensamentos, inclusive a respeito de si mesmo.
É o caso de mulheres que não conseguem ter orgasmo porque não estão satisfeitas com o corpo que têm, e se preocupam excessivamente com a aparência na hora da relação sexual. Ou ainda porque não se permitem descobrir o estímulo adequado junto com seus parceiros, e continuam mantendo relações pouco satisfatórias.
Os homens também apresentam dificuldades causadas pela baixa autoestima, como sentimentos de incompetência, grande cobrança interna, comparação com outros homens e insatisfação consigo mesmo em várias áreas. Outros ficam tão preocupados com seu desempenho sexual, que acabam apresentando dificuldades de ereção por causa dessa ansiedade. A antecipação do fracasso e a ansiedade de desempenho são processos cognitivo-emocionais bastante comuns, que normalmente levam a disfunções sexuais, e que na maioria das vezes são causados por insegurança e baixa autoestima.
No ocidente, ser magro significa ter competência, sucesso e ser atraente sexualmente. A obesidade é comumente associada com a falta de satisfação sexual, diminuição do desejo, dificuldades na performance, o que leva esses sujeitos a evitarem encontros sexuais. Vive-se uma verdadeira sobrevalorização das qualidades físicas em detrimento das psicológicas e cognitivas. Esse processo tem um impacto negativo sobre a autoimagem das mulheres que se sentem obrigadas a ter um corpo magro, atrativo, em forma e jovem. Uma imagem corporal negativa pode determinar o grau de sofrimento devido a baixa autoestima, podendo chegar até numa depressão.
Como a sexualidade saudável está relacionada com a autorealização?
Quanto mais aceitação pessoal, bom autoconceito e autoestima, além do conhecimento do seu corpo e do que lhe traz prazer, melhores as chances de ter uma vida sexual saudável. A função sexual preservada, livre de disfunções é fundamental para a realização pessoal. As dificuldades sexuais, na maioria das vezes, abalam a estrutura global do indivíduo. Dessa forma, podem comprometer, de forma significativa, o bem-estar e a qualidade de vida de homens e mulheres. A pouca valorização nos torna adversários do nosso próprio bem-estar. Saber-se merecedor da felicidade é a essência da autoestima e da plenitude da vida sexual.
Caso você tenha alguma dificuldade na área sexual, tome a iniciativa de procurar um psicólogo especialista em sexualidade ou um médico da área para a um diagnóstico e o estabelecimento de um plano de tratamento, que pode envolver psicoterapia cognitiva comportamental. Atualmente temos ao nosso alcance diversos recursos para viver uma vida sexual plena.