A exposição às imagens da violência e seus efeitos psicológicos. Maria Alice Fontes

Nos momentos de guerra, é muito comum que as pessoas tenham sentimentos de incerteza, pois ninguém sabe quanto tempo uma guerra pode durar, nem tampouco como ela pode afetar nossas vidas.

Por isso, podemos nos sentir inseguros quanto ao futuro e ansiosos em relação aos eventos que fogem de nosso controle.

Estes sentimentos são vivenciados com maior intensidade nas nações que participam diretamente dos conflitos de guerra, pelo fato da proximidade com a violência que se faz presente no cotidiano das pessoas.

Entretanto, para os brasileiros, especialmente aqueles que moram nas grandes capitais, é cada vez mais frequente o relato do medo decorrente da violência urbana.

Dentro da nossa guerra contra a fome e a violência, notícias marcantes de assassinatos e sequestros fazem parte do dia a dia e também nos afetam de forma particular.

A guerra, a violência urbana e as situações traumáticas afetam nosso funcionamento psicossocial de acordo com nossa resiliência, isto é, a capacidade de cada indivíduo de se adaptar e enfrentar mudanças inesperadas e situações estressantes.

A tristeza e a dor emocional são sentimentos comuns decorrentes dos traumas e perdas importantes, que podem vir a afetar o indivíduo ao longo de sua vida.

No entanto, o modo como cada um consegue superar esses sentimentos está relacionado com a capacidade interna e com as experiências anteriores que já foram ultrapassadas, construindo um caminho possível de elaboração.

De acordo com Russ Newman, PhD, ex-diretor da prática profissional da American Psychological Association (APA), é possível desenvolver maior resiliência com ajuda de um profissional da saúde mental.

Entretanto, de acordo com Newman, também pode ser importante a atenção a algumas recomendações que preservem nosso equilíbrio, como por exemplo:

  • Manter a rotina diária, mesmo quando o mundo em volta parecer caótico;
  • Estabelecer elos e vínculos com amigos e familiares de modo que as conexões entre as pessoas possam representar suporte social;
  • Diminuir a quantidade de tempo que se gasta com notícias relacionadas à violência;
  • Cultivar uma perspectiva de futuro positiva onde as dificuldades possam permanecer circunscritas a um determinado espaço de tempo.

Sabe-se que existem riscos psicológicos decorrentes da exposição continuada aos assuntos relacionados à guerra e/ou outras tragédias para as pessoas realmente envolvidas em tais situações.

Para os norte-americanos, desde os ataques terroristas de 11 de Setembro, o medo e a incerteza sobre o futuro é desencadeado pela possibilidade de atos aleatórios e imprevisíveis.

De acordo com uma pesquisa realizada 6 meses após tal ataque, onde 1900 americanos foram entrevistados, cerca de um quarto (24%) relataram maior depressão ou ansiedade do que em outros momentos na vida.

Além disso, foi constatado que mais de três quartos (77%) acreditaram ter tentado simplificar suas vidas, focalizando os esforços no que realmente importava e redirecionando as perspectivas de suas vidas.

Desde o início da guerra no Iraque, vários países redobraram o estado de alerta para a população e, segundo David Riggs, PhD, professor de psicologia da Universidade da Philadelphia, este alerta generalizado pode fazer com que alguns indivíduos exacerbam os sintomas relativos a antigos traumas e experimentem tamanha ansiedade que comprometa o funcionamento psicossocial normal.

Esta vivência de traumas anteriores, com sofrimento psicológico intenso e recordações aflitivas, recorrentes e intrusivas de um evento traumático é diagnosticada como Transtorno de Estresse Pós Traumático.

Este transtorno pode se manifestar de diferentes maneiras nos indivíduos, em alguns os sintomas de revivência do medo, emocionais e comportamentais podem ser predominantes.

Já em outros estados de humor anedônicos ou disfóricos juntamente com cognição negativa podem ser os sintomas mais perturbadores. E ainda tem indivíduos que apresentam uma combinação dos referidos sintomas. (DSM-5, 2014).

Este distúrbio acomete de 1 a 14% da população, sendo esta variabilidade relacionada com o risco relativo de cada sociedade. A identificação precisa dos sinais e sintomas é fundamental para o diagnóstico e tratamento.


Referência:

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
Este texto foi elaborado pela psicóloga Maria Alice Novaes, da Plenamente.