Com o avanço da vacinação no mundo, nós começamos a vislumbrar o adeus à pandemia de covid-19. Ainda falta algum tempo até que possamos retomar uma rotina semelhante à que tínhamos antes dadas ações de enfrentamento à doença, mas é necessário compreender como a pandemia afetou nossas relações pessoas e nosso bem-estar.
A COVID-19 afetou a vida em todo o mundo. Ainda nas primeiras semanas, o termo “distanciamento social” começou a ser amplamente utilizado e segue até hoje comosendo uma medida importante para conter a disseminação do vírus. Passados quase 2 anos de pandemia e distanciamento social, nossa questão agora é compreender como resgatar as conexões durante esta fase importante de retorno, mantendo e manter a segurança.
Segundo o artigo “Social Connection and Well-Being during COVID-19”, publicado no World Happiness Report, a limitação das interações sociais pode diminuir a noção de pertencimento e conexão com as pessoas, o que gera consequências importantes na saúde mental. Um dos danos relevantes devido ao isolamento social são os conflitos aumentados nos relacionamentos íntimos, exacerbados pelas muitas fontes de estresse associadas à pandemia, revela o estudo que revisita pesquisas relevantes publicadas em 2020.
O objetivo do artigo é avançar na compreensão de como a pandemia COVID-19 impactou no bem-estar geral e a conexão social em todo o mundo. Veja a seguir alguns tópicos apresentados no estudo sobre os fatores de proteção e de risco para o bem-estar positivo e negativo:
Características Psicológicas
Segundo o estudo, diversas características psicológicas mostraram ser fatores de proteção para o bem-estar durante o COVID-19. Alguns exemplos dessas características são: como extroversão, coragem, gratidão e resiliência.
Personalidade
Estudos publicados em 2020 mostraram que a personalidade pode representar um fator de desempenhar na proteção nodo bem-estar das pessoas durante a pandemia. Um estudo que com 516 adultos norte-americanos demonstrou que à medida que o comportamento de distanciamento aumentou, a extroversão esteve relacionadaestevefoi relacionada a mais afetos positivos, menos afetos negativos e maior satisfação com a vida. Esse padrão de resultados pode ser explicado pelo fato dos por extrovertidos serem mais engajados em atividades sociais, mesmo relativamente mais online, como bate-papo virtual. Ter uma personalidade extrovertida parece servir como um fator de proteção único para o bem-estar dos indivíduos durante o COVID-19.
Qualidade das Relações Sociais
Em uma pesquisa com adultos dos Estados Unidos e do Reino Unido, foi identificado que o senso de conexão de antes e durante a pandemia estavam associados com a satisfação com a vida, enquanto a solidão estava associada com a diminuição na satisfação com a vida. Da mesma forma, os pesquisadores descobriram que níveis mais elevados de relações familiares (ou seja, conexão) durante o COVID-19 estavam associados a um maior bem-estar.
Quantidade de Relações Sociais
Em abril de 2020, através de um estudo realizado com 902 austríacos, pesquisadores descobriram que entrevistados com maior número de conexões sociais relataram menos estresse e preocupação. Essa descoberta sugere que ter uma rede de apoio pode proteger o bem-estar durante a pandemia.
Comportamento de ajuda
O comportamento pró-social ou de ajuda demonstrou melhorar o bem-estar em muitos estudos anteriores à pandemia. Por exemplo, pesquisas demonstraram que algumas pessoas que se envolvem em comportamento pró-social sentem-se melhores quando estão sob estresse ou durante uma emergência, como aconteceu após o furacão Katrina. Um estudo com mais de 50 mil adultos do Reino Unido descobriu que eles relataram maior satisfação com a vida quando engajados em ações de voluntariado.
Uso de mídia social
A pesquisa relata não Não há haver consenso sobre os efeitos das mídias sociais no bem-estar das pessoas, alguns estudos indicam efeitos negativos e outroas apontam resultados positivos. O artigo “Social Connection and Well-Being during COVID-19” apontaexpõe que em uma amostra de 1.412 participantes da Itália, que foram recrutados online em meados de março 2020, que usarndo as redes sociais para expressar emoções para superar as dificuldades estava relacionado com oa eventos crescimento pós-traumático, que foi relacionado a um maior comportamento pró-social. “Evidências recentes sugerem que as interações que incluem voz (por exemplo, telefone, chat de vídeo ou chat de voz) levam a conexões mais fortes em comparação àqueles sem voz”, apresenta o artigo.
Atividade física diárias
Atividade física diária é um tema recorrente nas pesquisas, elas revelam que exercícios mais frequentes estão relacionados ao aumento do bem-estar durante a pandemia. Uma amostra de cerca de 600 adultos na Irlanda revelou que, um dia após os pedidos para ficar em casa, aqueles que passaram mais tempo ao ar livre e engajados em atividades como exercícios ou caminhadas relataram mais afeto positivo e menos negativo afeto. Em uma amostra de 13.696 participantes de 99 países pesquisados ??entre março 29 e 7 de maio de 2020, aqueles que exerceram quase diariamente durante a pandemia relataram mais humores positivos. Portanto, parece que as pessoas podem estar aumentando seus exercícios de rotina durante o COVID-19, e aqueles que o fazem relatam estar mais felizes.
Intolerância à incerteza
Estudos levantados pelo artigo do WHR demonstram que ter intolerância à incerteza ou sentir falta de controle produz resultados negativos durante a pandemia. Os autores destacam um estudo realizado com 1.772 indivíduos turcos, onde a intolerância à incerteza demonstrou ter um efeito direto no bem-estar, com medo de contrair COVID-19 mediando essa relação. Com tantas incertezas rondando os aspectos da pandemia, aqueles com intolerância à incerteza estão relatando bem-estar particularmente ruim, especialmente se eles também tendem a pensar constantemente sobre a doença ou ter medo do que pode acontecer.
Condições pré-existentes de saúde mental
Aqueles que têm problemas de saúde mental pré-existentes podem estar especialmente em risco de piorar seu bem-estar durante a pandemia. No Reino Unido, uma pesquisa com mais de 50 mil adultos concluiu que ter problemas de saúde mental ou física pré-existentes foi associado a sintomas depressivos graves durante a pandemia. Esse resultado foi prevalente em 11% da população do estudo. O artigo do WHR destaca serem necessárias mais pesquisas para replicar esses resultados, bem como para entender melhor os impactos exclusivos de tipos específicos de condições pré-existentes, como depressão e ansiedade.
Envolvendo-se no Distanciamento
Ações de distanciamento social aplicadas em todo o mundo para reduzir a transmissão de COVID-19 podem ter impactos adversos no bem-estar das pessoas. É o que mostra um estudo realizado nos Estados Unidos, em março de 2020, com 435 adultos. Na pesquisa, aqueles que se distanciaram relataram “aumentos nos sintomas depressivos, transtorno de ansiedade generalizada, pensamentos intrusivos e estresse agudo”.
Fontes de notícias online
Os veículos de notícias digitais são uma forma comum de as pessoas buscarem informações relacionadas ao COVID-19. “Dada a profusão de temores sobre a pandemia, as pessoas podem estar procurando maneiras de obter mais controle e conhecimento sobre a melhor forma de se manter protegidas”, aponta o artigo do WHR. “Em um grande estudo com adultos nos Estados Unidos, aqueles que consultaram um grande número de fontes da mídia para obter informações relacionadas ao COVID relataram maior sofrimento mental”, destaca.
Características do conjunto familiar
O distanciamento social força as pessoas a permanecerem em suas casas e, por consequência em alguns casos, passando mais tempo com os familiares. Uma pesquisa realizada no Reino Unido com mais 30 mil revelou que aqueles que viviam com outras pessoas tinham 75% menos chances de sentirem solidão em comparação com os que viviam sozinhos. No entanto, em outrosum par de estudos, o tamanho da família (incluindo morar sozinho) não foi relacionado a mudanças nas percepções de conexão social antes e durante a pandemia.
O artigo do World Happiness Report destaca um estudo, realizado na primavera de 2019 e novamente na primavera de 2020, com adultos idosos da Baixa Áustria que moram sozinhos também e não relataram aumentos na solidão. Esses resultados podem ser explicados pela escolha de viver sozinhos e os entrevistados podem ter características únicas de personalidade ou recursos sociais que os ajudam a enfrentar as políticas de permanência em casa.
Fatores demográficos
Certas variáveis demográficas podem colocar algumas pessoas em risco de menor conexão social ou maior solidão. Por exemplo, o artigo mostra que “os profissionais de saúde podem estar em maior risco de isolamento e estigma porque amigos e familiares podem optar por evitá-los devido ao aumento do risco de exposição ao COVID-19 que sua profissão envolve”. Além disso, osdisso, “os idosos estão em alto risco de contrair a doença, portanto devem praticar distanciamento físico para preservar a sua saúde”.
OutraUma pesquisa, do Reino Unido, destacada pelo artigo do WHR descobriu que adultos com idades entre 18 e 59 anos eram mais propensos a ficar sozinhos em comparação com adultos de 60 anos ou mais. São necessárias novas pesquisas para reconciliar descobertas conflitantes com relação à idade, por exemplo, e descobrir quais fatores podem influenciar esse resultado.
Grupos vulneráveis
Pesquisas levantadas pelos autores do artigo sugerem que as populações vulneráveis ??estão especialmente em risco de má conexão, isolamento social e solidão. “Como alguns indivíduos corriam risco de isolamento social antes mesmo da pandemia, os pesquisadores destacaram populações específicas que devem ser estudadas mais detalhadamente, como aquelas que vivem com uma doença crônica”, destaca o estudo.
Pessoas que vivem com condições crônicas de saúde, como o HIV, tendem a ter redes de relacionamento menores desde antes da pandemia devido ao estigma social, levando ao isolamento. Com a pandemia esses indivíduos podem sofrer ainda mais com o isolamento.
Uma revisão da literatura, sobre estratégias de contenção de doenças de 1946 a 2020, levantada pelo artigo revelou que as crianças são particularmente vulneráveis ??à solidão e ao isolamento social, o que aumenta o risco de depressão e ansiedade entre 3 meses a 9 anos depois. Existem ainda estudos que mostram resultados divergentes, portanto é fundamental para realizar novas investigações sobre fatores de conexão que impactam grupos desfavorecidos ou vulneráveis.
A conclusão apresentada no artigo “Social Connection and Well-Being during COVID-19” discorre que as pesquisas mostraram que a pandemia promoveu o aumento de quadros psicológicos negativos, como depressão e ansiedade, para grande parte da população. Contudo, muitas pessoas estão se saindo melhor do que o esperado, com alguns relatando aumentos na satisfação com a vida e conexão social sentida. “Os pesquisadores identificaram vários fatores que podem ser responsáveis ??pelas diferenças individuais no bem-estar e na conexão social em todo o mundo, como buscar informações relacionadas ao COVID-19, experimentar o fluxo durante a pandemia, usar a mídia social, ser de uma população vulnerável, viver com um parceiro, e ter características psicológicas positivas, como gratidão ou resiliência”, ressalta o artigo.
“Com a riqueza de informações já publicadas e mais no horizonte, pesquisadores, formuladores de políticas e funcionários de saúde devem continuar a confiar em dados empíricos para informar intervenções e políticas que visam equilibrar a saúde física com foco na manutenção ou melhoria do bem-estar e conexão social de pessoas ao redor do globo”, conclui.
Gostou dos resultados mostrados no artigo e quer compreender com mais profundidade os impactos da pandemia na saúde mental? Recomendamos a leitura do artigo completo. https://happiness-report.s3.amazonaws.com/2021/WHR+21_Ch6.pdf
Colaboração de Arcéli Ramos.
