O que é?
O Mindfulness é a tradução para o inglês da palavra sati em Páli, que significa estar atento (awareness), lembrar e atenção. O pali era a língua principal da psicologia budista há cerca de 2,5 anos, e o ensinamento fundamental dessa tradição era o Mindfulness (GERMER;SIEGEL;FULTON, 2016).
Durante o dia a dia, em meio às muitas tarefas e responsabilidades, costumamos entrar no “modo piloto automático”, apenas reagindo, muitas vezes de maneira ansiosa, às pessoas e as situações sem estarmos conscientes do que se passa no momento presente.
E caso esse modo de comportamento se torne persistente isso pode vir a prejudicar o indivíduo em vários aspectos de sua vida, como por exemplo, na esfera profissional, pessoal, interpessoal e etc.
Neste caso, as práticas de mindfulness podem ser uma ótima alternativa para se estar mais presente, visto que trabalhar o mindfulness significa sair desse modo piloto automático, se tornando receptivo para o que ocorre no aqui e agora.
Tipos de prática
O estado mental de Mindfulness pode ocorrer naturalmente em alguns momentos do cotidiano, entretanto, devido a característica discursiva dos pensamentos pode não durar muito, sendo necessário seu treinamento.
Assim como qualquer outra atividade, o mindfulness precisa ser praticado com regularidade para que se possa usufruir de seus benefícios.
Prática formal
A prática formal consiste na meditação propriamente dita, e é um meio de se experienciar os níveis mais profundos de mindfulness. É um “exercício” para a mente, que através da introspecção permite que o praticante observe seus pensamentos atentamente, compreendendo seu funcionamento mental.
(GERMER;SIEGEL;FULTON, 2016).
Prática Informal
A prática informal consiste na aplicação do mindfulness no cotidiano, ou seja, nas tarefas e situações do dia a dia.
Um exemplo de prática informal é o caminhar consciente, onde a pessoa presta atenção em cada passo, em cada momento do ato de caminhar, estando com a mente no momento presente.
Outra prática informal é a meditação durante a refeição, onde comemos em silêncio e devagar, observando o alimento no prato, as sensações provocadas pelo alimento na boca, o movimento dos músculos durante a mastigação, o sabor do alimento e o processo de deglutição (GERMER;SIEGEL;FULTON, 2016).
Todas essas práticas têm o intuito de lhe tirar do “modo piloto automático”, lhe tornando mais consciente sobre seus pensamentos e sentimentos.
Tipos de meditação mindfulness
Os tipos de meditação mindfulness mais difundidos na cultura ocientental são atenção focada (concentração), monitoramento aberto (mindfulness per se) e o amor bondade e compaixão.
Apesar de serem práticas diferentes, esses três tipos de mindfulness possuem um elemento comum em sua essência, que é a centralização do estar atento momento a momento, direcionando a consciência do praticante para o momento presente (GERMER;SIEGEL;FULTON, 2016).
Atenção focada
A atenção focada ou meditação de concentração consiste em direcionar a atenção para um estímulo específico, seja interno ou externo. Por exemplo, o praticante pode prestar atenção no ritmo de sua respiração (interno) ou em um quadro de parede (externa).
O intuito é de que o praticante possa desenvolver uma serenidade mental frente às demandas cotidianas e aos pensamentos e emoções perturbadores
A orientação é de que toda vez que a mente vier a divagar em direção a qualquer coisa que não seja o aqui e agora a pessoa possa voltar a atenção para o foco da meditação, seja ele interno ou externo.
Monitoramento Aberto
Ao contrário da atenção focada, na meditação de monitoramento aberto a consciência não está direcionada a um objeto ou estímulo específico.
Em sua prática o objetivo é estar atento ao que surge na consciência, seja pensamentos, emoções, sensações, sons e outros estímulos.
Com a prática cotidiana de meditação formal, a pessoa consegue transitar entre a meditação focada e o monitoramento aberto.
Perceber o que desvia o foco da atenção durante a meditação focada, ou seja, os estímulos que surgem para além do objeto de concentração é praticar o monitoramento aberto.
Ao decorrer do tempo, essa prática meditativa favorece o aumento do autoconhecimento, ao passo que torna mais claro os condicionamentos pessoais e o funcionamento da mente. (GERMER;SIEGEL;FULTON, 2016).
Amor bondade e compaixão
A meditação de amor, bondade e compaixão é a “cereja do bolo” do mindfulness haja vista sua importância para lidar com os pensamentos e sentimentos perturbadores que podem surgir durante a meditação.
“O amor bondade aquece a experiência da meditação, trazendo as qualidades de ternura, calma, conforto, alívio, cuidado e conexão.” (GERMER;SIEGEL;FULTON, 2016)
Uma das formas de se exercitar o amor, bondade e compaixão durante sua prática de meditação formal é repetir frases que emanam sentimentos de ternura, cuidado etc.
Alguns exemplos desse tipo de frase seria “Eu me aceito como sou” “Aceito a minha Humanidade” “Posso ser gentil comigo”. Com o tempo de prática cada pessoa vai descobrindo que frases funcionam melhor contribuindo para uma meditação mais acolhedora.
Praticar mindfulness pode melhorar minha qualidade de vida?
Tendo em vista o contexto de crise ocasionada pela pandemia do coronavírus e suas consequências psicossociais pode se imaginar os benefícios que o mindfulness pode trazer para a qualidade de vida das pessoas.
Além disso, já existem estudos científicos que comprovam os benefícios do mindfulness para a saúde.
Um estudo de campo realizado em 2009, que objetivava identificar os benefícios trazidos pela prática de meditação, identificou melhorias nas dimensões cognitiva, emocional, física, social e espiritual entre praticantes de meditação.
De acordo com este estudo, no que tange a dimensão cognitiva, um maior autoconhecimento e capacidade de atenção e foco são percebidos.
Em relação à dimensão emocional, calma e equilíbrio emocional são alguns dos fatores melhorados pela meditação.
Na dimensão física os praticantes assinalaram maior relaxamento, mais energia além de melhora na qualidade da saúde e do sono.
Já na dimensão social , o fortalecimento e melhoria na qualidade dos relacionamentos, além de maior aceitação e receptividade foram relatados pelos participantes.
Por fim, na dimensão espiritual houve respostas relacionadas a um sentimento de pertencer a algo maior, a uma proximidade com Deus.
Portanto, como pode se perceber, não são poucos os benefícios trazidos por essa prática simples, mas que pode melhorar exponencialmente a qualidade de vida das pessoas.
Referências:
GAMER, christopher K; SIEGEL, ronald D; FULTON, paul R. Mindfulness e psicoterapia [online] 2ª Edição. Porto Alegre: Artmed editora ltda, 2016. Available fromhttps://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=TJirCgAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT4&dq=mindfulness+e+psicoterapia&ots=OuiljSBXdW&sig=uqViilW7O9UozQdmuIP3eYToERs#v access on 13 May 2021.
MENEZES, Carolina Baptista; DELL’AGLIO, Débora Dalbosco. Por que meditar? A experiência subjetiva da prática de meditação. Psicol. estud., Maringá, v. 14, n. 3, p. 565-573, Sept. 2009. Available from https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722009000300018&lang=pt access on 13 May 2021.